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RUSH - O Último Álbum dos Rush & Neil Peart

 

Postado em: 11 Jan 2020

30 anos depois de “2112” e “Hemispheres”, os Rush gravaram um álbum conceptual. A história, passada num mundo distópico inteiramente criado por Neil Peart, tornou-se no último disco de originais que a banda (e o seu malogrado baterista) gravou.

O álbum “Clockwork Angels”, que sucedeu a “Snakes & Arrows” (2007), teve edição mundial através da Roadrunner no dia 12 de Maio de 2012.  Foi o último álbum dos Rush e, sabe-se agora, de Neil Peart. O baterista e letrista dos Rush morreu na passada terça-feira, dia 07 de Janeiro, em Santa Mónica, na Califórnia. O músico tinha 67 anos de idade. A causa da morte foi um tumor cerebral, com o qual Peart lutou discretamente nos últimos três anos.

A música é eterna e, no caso de Peart e dos Rush, o último álbum entrou directamente para a galeria dos mais notáveis da banda.

“Clockwork Angels” serviu de inspiração a um romance de ficção científica escrito pelo autor Kevin J. Anderson, segundo o próprio fez saber na altura da edição, acrescentando: «imaginem que “The Wall”, “Tommy” ou “Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band” tivessem sido novelados na altura em que foram editados. Para os fãs de Rush, “Clockwork Angels” é esse projeto. Trabalhei muito próximo do Neil [Peart] e do próprio artista Hugh Syme, cujas pinturas preenchem o booklet do CD, para escrever a história que as músicas percorrem».

Portanto, “Clockwork Angels” marcou o regresso da banda aos discos conceptuais. Se já estão a pensar em prog rock, e autênticas alucinações musicais extra sensoriais, desenganem-se pois este álbum foi feito com régua e esquadro e tudo funciona como um relógio suíço. Para os que o esperavam há muito e haviam seguido os temas pré-lançados, “Caravan” e “BU2B” (temas que abrem o álbum), ou mesmo o álbum anterior, este álbum não contém coisas que possam ser consideradas surpreendentes. O que continua a surpreender é o quão bom pode ser o som de apenas três músicos.

De qualquer forma, poderá arriscar-se dizer que Geddy Lee está a tocar muito neste álbum – é verdade que sempre foi um grande baixista, mas também é verdade que sempre pareceu um pouco na sombra rítmica do imenso Neil Peart. Em “Clockwork Angels parece ressoar com muito mais dinâmica melódica, o que acrescenta muito detalhe ao som aberto da guitarra de Alex Lifeson (sempre muito adepto de acordes, para preencher bem harmonicamente o espaço musical dos temas), que no seu estilo de execução nunca teve pejo em demonstrar uma devoção pela escola de Pete Townshend. Só para acrescentar mais linhas à história da música sobre Neil Peart, é incrível como soa tão instintivo e descontraído na complexidade de fusão rítmica que promove, é como se soubesse matemática de uma forma tão inata como aquela com que um ser humano respira.

Tal como em “Snakes & Arrows” há dois factores aqui presentes que marcam a contemporaneidade dos Rush: os apontamentos dos teclados são muito mais secundários que no som clássico da banda e a sonoridade ganha cada vez mais músculo, mérito da produção de Nick Raskulinecz – ainda que neste aspecto, a mistura pudesse estar um pouco mais limpa, pois em certos momentos dá a sensação que estão demasiadas coisas a acontecer. Ainda assim, se pensarmos que o conceito que envolve o disco é baseado num protagonista que procura viver numa distopia, esses momentos caóticos podem ser intencionais ou musicalidade ilustrativa dessa projecção ficcional da velocidade e enormidade desta sociedade tecnológica actual.

Mas se dizer que este é um rosto novo no prog rock conceptual dos Rush, se pensarmos por exemplo em “2112”, não se pode assumir que é um álbum imediato como o anterior “Snakes & Arrows” ou com aquele sentido AOR que pontua temas “Closer to the Heart” ou “Spirit of the Radio”. E, ao mesmo tempo, essas fases da banda surgem aqui congregadas no matematicamente poderoso “Seven Cities of Gold”, por exemplo, no directo “Wish Them Well” ou no gentil “The Garden”. Como um todo, música, músicos, banda e disco soam como se os 30 anos, com as suas diversas fases, que a banda levou a tornar a escrever um álbum conceptual tivessem sido como um longo processo de definição do mesmo. Por isso, este parece o álbum mais coeso e focado em todo esse período de tempo na carreira dos Rush.

“Clockwork Angels” é um álbum conceptual, da maior banda do prog rock actual – os Dream Theater há muito perderam pertinência criativa, os Opeth são demasiado pesados para aclamação mainstream, aos Mars Volta falta ainda a inevitável passagem do tempo para polir as arestas das suas composições e a muitas outras, com o devido respeito, falta a consensualidade. Sem delírios melódicos e sem mutilação através de amarras de cálculos na procura de compassos extravagantes, “Clockwork Angels” é um álbum, perdoem o neologismo entusiasta, “matemelódico”! Foi um dos nossos eleitos para a lista de melhores álbuns desse ano.

O álbum inspiraria mesmo uma tarola de assinatura deslumbrante de Neil Peart com a DW Drums. Uma edição limitada, dentro da Icon Series, cujos acabamentos são lindos de morrer! Se pensarmos que o hardware inclui ouro, isso mesmo, ouro, é difícil pensar que se terá uma, mas lavar os olhos não é pecado! É uma peça 6.5×14’’, construída com a exótica madeira padauk e o acabamento Time Machine mostra os motivos de “Clockwork Angels”.

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